terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O sorriso azul

Eu ainda lembro-me da sua cara de espanto quando eu te entreguei a carta da Universidade de Nova Iorque. Você ficou quieta por alguns minutos lendo e relendo aquele pedaço de papel mil vezes. Depois de digerir toda a informação você saiu correndo feito uma louca pela casa gritando: ‘Eu entrei!! Meu Deus, eu entrei!’. Desse dia em diante tudo correu rápido demais. Você foi morar em NY, eu fiquei. Com você foram todos os meus segredos, o meu sorriso azul, meu aparador de sonhos e minha ironia. Nunca em 15 anos de vida eu havia me sentido tão sozinha. Quando eu terminava de escrever algum texto, ainda ia correndo no seu quarto pra te mostrar, mesmo sabendo que você não estava lá. O seu quarto foi um pedaço de você que ficou. O porta retrato do lado da cama com nós duas fazendo careta, o calendário da Frida Kahlo colado na parede contra a vontade da mamãe, os ursinhos infantis demais em cima da cama. Tudo permaneceu intocado. O seu quarto era o meu refúgio particular. Era o que eu tinha de você mais próximo de mim. Mas aí como o Sid sempre fala: no final da tempestade sempre tem um arco-íris. Você voltou pro aniversário de casamento dos nossos pais. Foram cinco dias para o retorno da minha ironia e do meu sorriso (não só o azul, mas o de todas as cores). E por cinco dias foi como se você nunca tivesse partido. Mas agora você tem que voltar. E estou aqui te embarcando rumo aquela cidade linda e gigantesca. Do outro lado do vidro do portão de embarque você acena e sorri de forma triste, feliz e chorosa, um sorriso que vale mais do que mil abraços. O sorriso azul. E quando você se vai e a única coisa que fica é o meu próprio reflexo no vidro, eu percebo que o meu sorriso azul é uma mera releitura do seu.

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