Eu
ainda lembro-me da sua cara de espanto quando eu te entreguei a carta da
Universidade de Nova Iorque. Você ficou quieta por alguns minutos lendo e
relendo aquele pedaço de papel mil vezes. Depois de digerir toda a informação
você saiu correndo feito uma louca pela casa gritando: ‘Eu entrei!! Meu Deus,
eu entrei!’. Desse dia em diante tudo correu rápido demais. Você foi morar em
NY, eu fiquei. Com você foram todos os meus segredos, o meu sorriso azul, meu
aparador de sonhos e minha ironia. Nunca em 15 anos de vida eu havia me sentido
tão sozinha. Quando eu terminava de escrever algum texto, ainda ia correndo no
seu quarto pra te mostrar, mesmo sabendo que você não estava lá. O seu quarto
foi um pedaço de você que ficou. O porta retrato do lado da cama com nós duas
fazendo careta, o calendário da Frida Kahlo colado na parede contra a vontade
da mamãe, os ursinhos infantis demais em cima da cama. Tudo permaneceu
intocado. O seu quarto era o meu refúgio particular. Era o que eu tinha de você
mais próximo de mim. Mas aí como o Sid sempre fala: no final da tempestade
sempre tem um arco-íris. Você voltou pro aniversário de casamento dos nossos
pais. Foram cinco dias para o retorno da minha ironia e do meu sorriso (não só
o azul, mas o de todas as cores). E por cinco dias foi como se você nunca
tivesse partido. Mas agora você tem que voltar. E estou aqui te embarcando rumo
aquela cidade linda e gigantesca. Do outro lado do vidro do portão de embarque
você acena e sorri de forma triste, feliz e chorosa, um sorriso que vale mais
do que mil abraços. O sorriso azul. E quando você se vai e a única coisa que fica
é o meu próprio reflexo no vidro, eu percebo que o meu sorriso azul é uma mera
releitura do seu.
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